Qual filho você ama mais?
Há alguns dias, havia elogiado a delicadeza de como suas mãos das suas mãos eram pequenininhas e gordinhas. Daquele tipo que você não consegue ver nenhum osso.
Havia janelinhas abertas em sua boca. Suas bochechas ainda eram fofas e vermelhas. Corria pra nossa cama assim que amanhecia e o cabelo dela tinha um cheirinho doce. Ela ainda era um bebê, só que grande.
Essas observações vinham sendo feitas até a chegada de um serzinho muito menor. Ainda tímida nos seus gestos e no seu choro. De repente, aquela mãozinha fofa dela se pareceu gigantesca.
Assim como todo o seu corpinho. Mudou-se a perspectiva. Tudo parecia grande demais, ameaçador demais. Era preciso cuidado. O bebê era muito mais frágil - eu falava.
Durante as manhãs, ela já não corria pra cama, pois sabia que ela estava ocupada e todos os olhares eram para o meu seio e para a boca daquela bebê, que mamava alucinadamente. Momentos gostosos aconteciam.
Passávamos a tarde deitadas na mesma cama. Conversando ou fazendo as unhas até que... por alguma motivo de força maior, eu era obrigada a interromper tudo. Sempre eu. Sempre motivos mais urgentes.
Cerca de um ano e meio se passou para que ouvisse algo que me machucou muito e me deixou completamente perturbada. Senti o amargo da injustiça.
Duas pessoas do meu convívio, chegaram para o meu marido numa preocupação que acredito genuína e disseram que eu parecia gostar mais da Maria Vitória do que da Mariana. Um detalhe: elas, mães de um filho só. Estavam falando do que não conheciam.
Como é do meu feitio, guardei isso e fiquei remoendo durante muito tempo até sentir que poderia falar do assunto sem bancar a ofendida.
Achava que estava conseguindo conciliar, enquanto tentava equilibrar todos os pratos. Achava que teria que me dedicar de corpo e alma aquela recém-nascida pra que não faltasse a ela tudo que a ela eu tinha dado. Seguindo essa lógica, fui levando essa maternagem plural. Sempre buscando conciliar, sempre buscando...
Dezessete anos de diferença e duas fases bem diferentes no desenvolvimento de cada um a das minhas filhas.
Quem demandava mais atenção? A quem precisava socorrer a qualquer tempo e a qualquer instante? Quem me faz passar noites e noites acordadas?
A resposta é óbvia. Maria Vitória! Demanda mais atenção, mas não há que se falar em amor. Mensurar isso, dessa forma, é leviano. Amor a gente só sente.
A chegada de mais um filho, muda tudo. Toda rotina estabelecida e a forma como nos relacionávamos entre si. Mas quem disse que essa mudança é ruim e que demanda prejuízos? Ajustes. Estes sim são necessários.
Amar era sentir aquela presença da Mariana, no meio da madrugada pergunta se não pode ajudar, afagando a cabeça da irmã e desejando que eu dormisse pelo menos uma noite completa.
O amor sempre está aqui, sempre se fez presente. E essa conversa eu tive não com as pessoas que levantaram esse questionamento, mas com ela, que era a quem mais interessava.
Choramos juntas e ela me disse da forma mais sincera que consegue ser: Mãe, um dia te quis só pra mim. mas depois, Amo demais a minha irmã, que jamais quero você longe dela. Só quero que a gente fique junto: eu, você, o papai e ela.
A chegada de um irmão, amadurece, pois se percebe que as atenções do mundo não giram para sempre ao redor do próprio umbigo. A chegada de um irmão, fortalece.
Disso uma lição: aos olhos dos outros, nunca seremos perfeitos. Pois cada um julga, baseado naquilo que tem dentro de si e das vivências que possui.
Tudo isso aconteceu, quando aprendi a ser mãe de duas.